Hoje, 23 de junho de 2016, Vilanova Artigas faria 101 anos e por isso se encerram as homenagens pelo seu centenário, inevitavelmente.
Quando começamos a formular o projeto que resultou nos eventos de comemoração ao centenário do arquiteto, éramos alguns poucos da família e alguns amigos próximos que queríamos aproveitar a oportunidade para recuperar para as novas gerações um pouco do legado do arquiteto para a cultura brasileira, em especial para a arquitetura e urbanismo. O ponto de partida foi o desejo de tornar público e acessível, por meios digitais, a documentação pessoal e profissional do arquiteto que começamos a organizar em 2011 quando, extinta a Fundação Vilanova Artigas, ela ficou sob responsabilidade da família. Um site e um documentário foram as primeiras ideias que vingaram. Depois vieram o livro, uma exposição e o festejado livro infantil.
A documentação pessoal instruiu o conceito geral que organizou o conjunto das comemorações porque revelaram aspectos da época, da geração e da personalidade de Artigas que já estavam perdidos ou transformados em memória e linguagem, trinta anos após a sua morte. O rico material - os manuscritos, cartas, esboços, desenhos, estudos, fichas, anotações, rascunhos, rabiscos – apareciam diante de nós solicitando explicações sobre o contexto da modernidade de país periférico e sobre os embates históricos para a elaboração de projetos para o futuro, no Brasil .
Quando começamos a trabalhar na pesquisa e na elaboração mais efetiva do projetado para o centenário do Artigas, vivíamos – como ainda vivemos – um tempo de revisão nacional dos anos pós-golpe de 1964. Havia a atuação das Comissões da Verdade nos diferentes âmbitos das instituições, repensando a anistia política que nos fez descobrir os segredos do combate pela democracia. Também houve a retomada dos movimentos sociais e populares reivindicando reformas e ocupando as cidades, produzindo um debate nervoso e acelerado pelas mídias sociais sobre as eleições gerais de 2014, que se aproximavam. Nossa pesquisa entrou nesse clima de recuperação e reorganização de aspectos da história, de um lado, e da memória afetiva, de outro da geração do Artigas que também viveu os grandes embates políticos do século XX.
O pequeno grupo inicial que desenhou os festejos do centenário, formado por familiares e amigos, foi ampliado muitas vezes, agregando gente querida e amiga disposta a retomar o debate sobre o legado da geração moderna sob um novo olhar crítico. Várias instituições nos acolheram, multiplicaram-se os eventos e as publicações. Fizemos palestras pelo Brasil, nas universidades, em museus, em escolas secundárias, em feiras de livro, bibliotecas. Participamos de festivais de cinema e até recebemos prêmios. Por tudo isso, o Centenário de Vilanova Artigas foi muito maior do que podíamos imaginar e desejar. Agora quando se encerra formalmente, com a chegada dos 101 anos, deixa um caminho aberto para um olhar sobre o presente, sob inspiração do pensamento coletivo, do humanismo, do debate democrático e inteligente para construir o futuro livre e feliz para as novas gerações. Como desejou e desenhou o Professor Artigas.